Maior alteração da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) desde sua criação, a Reforma Trabalhista (Lei 13.467/17), que passará a valer no dia 11 de novembro, poderá não ser aplicada exatamente como foi aprovada. Magistrados, procuradores e advogados afirmaram durante audiência pública promovida nesta segunda-feira (11) pela Subcomissão Temporária do Estatuto do Trabalho que a norma está contaminada por inúmeras inconstitucionalidades e retrocessos.

Como a reforma trabalhista é uma lei ordinária, magistrados afirmam que ela não poderá se sobrepor aos direitos e garantias assegurados pela Constituição nem tampouco violar convenções globais das quais o Brasil é signatário. Entre os pontos considerados inconstitucionais, está a prevalência do negociado sobre o legislado, princípio central da reforma, que contrariaria o artigo 7º da Constituição Federal na avaliação de participantes do debate.

— Fizemos um juramento de julgar e vamos aplicar a lei ordinária que aprovou a reforma trabalhista, mas não vamos aplicá-la isoladamente. É uma lei trabalhista que se insere à luz da proteção constitucional e à luz da legislação internacional – afirmou a ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Delaíde Arantes.

Pressa

Apresentado em dezembro pelo governo federal, o projeto de reforma levou sete meses para virar lei. Por se tratar de um tema complexo, a reforma trabalhista deveria ter passado por um debate mais amplo na opinião dos participantes do debate.  O texto sofreu mudanças na Câmara dos Deputados, mas não foi modificado no Senado após um acordo com o Palácio do Planalto. Em carta lida pelo líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), o presidente Michel Temer comprometeu-se a editar uma medida provisória para modificar alguns pontos da reforma, como a questão que envolve a não obrigatoriedade do imposto sindical e a permissão do trabalho de gestantes e lactantes em condições insalubres.

— Um projeto como esse não pode prescindir de um debate amplo. Não é admissível que tenhamos um rito legislativo como nós tivemos nesta Casa – criticou o advogado trabalhista Luis Carlos Moro.

O senador Paulo Paim (PT-RS), que conduziu a reunião, e a presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH), senadora Regina Sousa (PT-PI), queixaram-se da pressa com que a base governista levou o projeto à votação na Casa.

Retrocessos

O procurador do Trabalho, Helder Amorim, condenou a possibilidade de trabalhadores e empregadores negociarem livre e diretamente seus interesses, de modo que a Justiça do trabalho não possa anular acordos. Segundo Amorim, o “negociado sobre o legislado” ignora que o trabalhador é hipossuficiente, ou seja, é mais frágil nas relações de trabalho:

— Trata-se de uma reforma que pode ser exterminadora dos direitos dos trabalhadores. São direitos que foram conquistados no longo processo histórico de afirmação dos direitos coletivos – argumentou.

Para Gabriela Delgado, professora da Universidade de Brasília (UnB), é um mito afirmar que a reforma promoverá a modernização da legislação trabalhista.

— É uma grande falácia. Como se a autonomia da vontade dos contratos individuais pudesse garantir uma posição de maior proteção ao trabalhador – afirmou.

Maximiliano Nagl Garcez, diretor para Assuntos Legislativos da Associação Latino Americana de Advogados Laboralistas, disse que o trabalhador, sem uma proteção minimamente adequada, será transformado em mercadoria durante o tempo de trabalho.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

Reforma Trabalhista: especialista avalia qual o impacto para o RH das empresas

De acordo com o consultor em recursos humanos e diretor executivo da BAZZ Estratégia e Operação de RH, Celso Bazzola, a Reforma Trabalhista permite o ajuste de questões de informalidade, como o parcelamento de férias – antes irregular. “Isso significa que, em grande parte, a reforma está regularizando o que hoje se faz, todos aceitam e poucos questionam”, aponta o especialista.

Recursos Humanos

De acordo com o consultor em recursos humanos e diretor executivo da BAZZ Estratégia e Operação de RH, Celso Bazzola, a Reforma Trabalhista permite o ajuste de questões de informalidade, como o parcelamento de férias – antes irregular. “Isso significa que, em grande parte, a reforma está regularizando o que hoje se faz, todos aceitam e poucos questionam”, aponta o especialista.

Como entendedor da área, Bazzola diz que a partir desse momento é preciso muito cuidado nas ações que serão tomadas, uma vez que as negociações devem estar focadas muito além do simples desejo de obter vantagens na relação, criando mecanismos de sustentabilidade desse acordo.

“Flexibilizar alguns critérios de negociação pode aumentar o ganho pelo resultado e a composição justa de uma remuneração total, onde todos obtêm resultados pela importância que cada um tem no processo produtivo”, avalia.

Por fim, o especialista acredita que a Reforma Trabalhista é importante para a área de recursos humanos das empresas. Além disso, Bazzola compreende que a medida é benéfica para suportar momentos de instabilidade econômica, o que possibilita a realização de acordos compatíveis com a necessidade do mercado. A política, portanto, evita situações de demissão em massa ou quebra de empresas.

“Por isso, vejo esse momento como um avanço, pois possibilita empresas, sindicatos e trabalhadores definirem a melhor forma de conduzir mudanças sem estarem presos às regras que já não fazem parte de nossa realidade”, conclui. E você, o que acha da Reforma Trabalhista?

MP que altera termos da reforma trabalhista deve sair em 30 dias, diz UGT

O presidente Michel Temer deverá publicar dentro de 30 dias a medida provisória em que altera alguns termos da reforma trabalhista, que entrará em vigor a partir de novembro e acabou com a obrigatoriedade do desconto de um dia de salário para contribuição compulsória para os sindicatos.

 “A MP deverá sair por volta de 30 dias, que é o tempo necessário para uma conversa com todos os líderes de partidos antes do envio do texto definitivo. A construção da MP está sendo conduzida pelo ministro Ronaldo Nogueira e foi sugerido (na reunião) para que as centrais estivessem conversando com as lideranças e com os ministros os pontos que sejam mais equilibrados”, afirmou o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, após participar de uma reunião com Temer, com representantes da UGT e com os ministros Henrique Meirelles (Fazenda), Gilberto Kassab (Comunicações) e Ronaldo Nogueira (Trabalho), nesta segunda-feira (11/09). Ele lembrou que essa MP é aguarda devido ao acordo feito com senadores para que a então reforma trabalhista fosse aprovada.
Segundo Patah, a UGT apresentou uma sugestão de MP para impedir a automação das redes de supermercados, como ocorreu no passado com os postos de gasolina, quando Temer era presidente da Câmara dos Deputados.
Um dos principais pontos que os sindicalistas querem incluir na MP é a volta da contribuição compulsória para os sindicatos, que foi derrubada pela reforma trabalhista. “Viemos conversar sobre a MP que recompõe alguns dos direitos que foram feridos, ao nosso ver, na legislação recentemente sancionada e que vai vigorar a partir de novembro”, afirmou o sindicalista. Ele contou que a proposta defendida pela entidade é a volta de uma única contribuição, juntando a compulsória, o imposto sindical e o imposto assistencial, que daria mais de um dia de salário.