Entre chegadas e partidas de empregados com carteira assinada, as Micros e Pequenas Empresas (MPEs) conseguiram reverter o saldo negativo acumulado nos últimos dois anos. Em 2017, as contratações nas MPEs superaram as demissões em cerca de 330 mil. Já entre as maiores, o déficit até diminuiu, mas, na briga entre cortes e admissões, os desligamentos venceram com uma diferença de cerca de 350 mil. As menores estão bem mais otimistas. Um levantamento do Sebrae revela que pelo menos seis a cada dez micros e pequenos empresários acreditam que 2018 será melhor, e 67% admitem que pretendem adotar novas medidas para viabilizar essas melhorias.

William Fonseca, sócio do instituto de beleza Eliza Martins, faz parte das duas estatísticas. Depois de ver as clientes reduzindo os gastos no salão, no ano passado ele voltou a ver o movimento subir e não teve dúvidas: contratou mais gente e até passou a oferecer serviços que antes não eram feitos. “Eu contratei uma recepcionista e investi em um manobrista. O objetivo é oferecer algo a mais para as clientes, que buscam comodidade”, conta o sócio do instituto, localizado no bairro Funcionários, região Centro-Sul da capital.

O coordenador do MBA em gestão empresarial da Fundação Getulio Vargas (FGV– Faculdade IBS), José Carlos Abreu, afirma que, assim como as menores empresas demitem primeiro em tempos de crise, eles também contratam mais rápido quando a situação melhora. “Quando a economia começa a melhorar, o consumo volta a crescer, e as micro e pequenas empresas precisam ser rápidas para aproveitar, senão podem perder o timing. Já as grandes têm uma inércia maior”, afirma o professor.
“São restaurantes, pequenas indústrias, pequenos comércios e prestadores de serviços que, quando a classe média volta a se fortalecer, precisam atender a esses consumidores com agilidade. É por isso que as micros e pequenas empresa geram muito mais empregos”, completa Abreu.

Para o gerente da unidade empresarial do Sebrae Minas, Felipe Brandão de Melo, a contratação de mão de obra é um reflexo bem imediato. “Quando a renda das famílias aumenta, cresce a propensão ao consumo, e esses negócios também começam a demandar mais funcionários”, comenta.
O sócio do instituto de beleza está procurando uma gerente. “A nossa tinha saído há algum tempo. Agora, sentimos a necessidade de repor a vaga”, conta.

O pequeno empresário afirma que o investimento não é à toa. “Na crise, as clientes não deixaram de vir, mas reduziram o tíquete médio. Agora, já estão voltando a gastar mais, e eu acredito que 2018 será muito melhor”, ressalta.

No ano passado, entre demissões e contratações, Minas Gerais registrou um saldo positivo de cerca de 36 mil empregos. Só nos dois primeiros meses de 2018, as micros e pequenas empresas do Estado geraram um saldo positivo de 11,84 mil contratações. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.

Perspectivas. Para 28% dos entrevistados pela pesquisa “Expectativas dos pequenos negócios para 2018”, o Brasil sairá da crise até o ano que vem. Para mais da metade (54%), a retomada virá só depois de 2020.

BH e Betim lideram ranking

Em 2017, a capital mineira foi a cidade que mais gerou vagas formais nas micros e pequenas empresas. Foram 6.029 contratações a mais do que as demissões. Betim, na região metropolitana, ficou em segundo lugar, com saldo positivo de 1.620. Entre as próximas três, duas estão no Triângulo Mineiro: Uberlândia (1.248) e Iturama (866). A terceira é Patos de Minas (Alto Paranaíba), com saldo de 934 contratações.

O economista da Federação do Comércio (Fecomércio-MG) Guilherme Almeida destaca a importância da diversificação da economia e das políticas de incentivo fiscal. “No Triângulo, vemos vários programas de incentivo para atrair empresas dos mais variados setores. Quando o município incentiva isso, garante mais empregos”, ressalta.