Cúpula fiel ao governo sinaliza com fechamento de questão dos principais partidos – PSDB e PMDB – para dar o exemplo às demais legendas aliadas; mas há resistência dos líderes à ideia

Brasília – O governo lançou novas estratégias, como o fechamento de questão aos principais partidos aliados – PMDB e PSDB – para dar exemplo às demais legendas, com o objetivo de acelerar a votação da reforma trabalhista e previdenciária na Câmara e no Senado.

O PMDB foi o primeiro partido a reunir assinaturas necessárias para obrigar toda a sua bancada a apoiar a reforma. Dos 64 integrantes do partido na Câmara, 34 já declararam apoio à iniciativa. As bancadas do PP (47 deputados), do PR (39 parlamentares), do PSD (37 membros) e do DEM (29 deputados) também devem seguir o mesmo caminho. ??Há resistências, porém, no próprio PMDB, o que exigirá mais esforços do Planalto para vencer fortes focos de resistência em ambas as Casas, com o propósito de concluir a apreciação dos projetos antes do inicio do recesso, em meados de julho, e impedir novas pressões no segundo semestre.

No Senado, por exemplo, aliados insistem em fazer modificações no texto da reforma trabalhista. Na Câmara, não há ainda previsão para a votação da reforma da Previdência por falta de garantia de pelo menos 325 votos para aprovação da matéria, uma margem de 17 votos além do mínimo necessário.

Como parte da nova ofensiva governista, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), anunciou um novo cronograma para encurtar tramitação da reforma trabalhista nas comissões em Plenário. “Não haverá atropelos”, prometeu Oliveira. Para a oposição, ele quer forçar a barra e buscar liquidar a fatura até a próxima semana sob os protestos, como o do senador Jorge Viana (PT-AC). Segundo o petista, o prazo acordado na reunião de líderes na terça-feira (9) seria um mês para a conclusão da pressão da matéria.

Exemplo da prioridade

Ontem (10), o presidente da comissão especial da Câmara que aprovou a reforma da Previdência na terça (9), deputado Carlos Marun (PMDB-MS), defendeu que o PMDB feche questão a favor da proposta. Justificou que isso serviria de exemplo para outros partidos da base governista. “Sou favorável ao fechamento de questão e penso que o PMDB, inclusive, deve dar o exemplo neste sentido”, pregou Marun.

O fechamento de questão sobre determinada matéria pode resultar em sanções aos que não seguirem a orientação partidária. Marun lembrou que a reforma da Previdência é prioridade máxima para o governo. “Então não estamos falando de uma proposta, de um projeto qualquer, então quem é governo deve estar alinhado a ela”, pontuou o deputado.

De acordo com Marun, a votação da reforma da Previdência em plenário só ocorrerá quando o governo garantir, pelo menos, 330 votos. Marun afirma que, até o fim do mês, a base governista terá mais do que isso: ele acredita no voto de 350 deputados .

Na véspera, o presidente nacional do partido e líder do governo do Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), afirmou que a direção partidária ainda não havia sido formalmente provocada pela bancada do PMDB e que a decisão sobre fechamento de questão será tomada de forma coletiva, assim que for formalmente solicitada.

Procurados pelo DCI, assessorias das lideranças do PSDB e do Democratas na Câmara afirmaram que, até o momento, não existe a possibilidade de fechamento de questão para a votação das reformas empreendidas pelo governo no Congresso Nacional.

Dificuldades

Entre os tucanos, a ideia ainda não foi sequer debatida, indo contra a posição manifestada na semana passada pelo secretário de governo da Presidência da República, Antonio Imbassahy, que é do PSDB da Bahia, que se manifestou a favor do fechamento de questão.

No Democratas, a posição é a mesma. O partido ainda sublinha que foi “100% fiel ao governo na votação da reforma trabalhista”.Em entrevista ao DCI, o líder do DEM, Efraim Filho (PB), reforçou o posicionamento da sigla. “Não haverá fechamento de questão. E é preciso respeitar as dimensões e as peculiaridades de cada região, além das percepções de cada deputado”, disse.

Concessões aos aliados

Porta-voz informal do presidente Temer, o vice-líder do governo, deputado Darcisio Perondi (IPMDB-RS) disse que essa votação é uma guerra e que o governo vai usar todos os recursos que estiverem ao seu alcance, inclusive cobrar o fechamento de questão.

“Usaremos o que for necessário para vencer essa guerra”, afirmou Perondi, citando como exemplo a exoneração de indicados por parlamentares rebeldes, como já ocorreu com 30 ocupantes de cargos comissionados, além da liberação de R$ 1 bilhão para atender emendas parlamentares.

“Não adianta liberar recursos para emendas, conceder canais de emissoras de rádio e televisão porque que vamos derrotar o carrasco dessa maldita reforma da Previdência”, protestou o deputado Major Olímpio (SD-SP), cuja trajetória é marcada pela defesa dos servidores públicos. O partido dele, o Solidariedade, ameaça deixar a base aliada.
Foto: Marcos Corrêa / PR

Abnor Gondim